quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Chile Beleza Mil


Há quem diga que não é correcto aproveitar as viagens de serviço para, adicionalmente, gozar férias. Qual é o problema de ficar mais uma semana num local para onde nos deslocamos por motivos profissionais, se tal atitude não acarretar custos para o serviço? Pelo contrário: o facto de se ficar mais tempo em determinado local pode mesmo embaratecer o custo final do transporte.

Foi o que fiz neste caso: um Congresso de cerca de alguns dias permitiram uma visita por algumas regiões do Centro e do Sul desse comprido e contrastante país que é o Chile.

Partimos no final de Novembro. Com o decréscimo da latitude, passámos do frio e chuva para o tempo quente. Mais de 13 horas num Airbus A240 levaram-nos de Madrid a Santiago do Chile, sobrevoando o Atlântico, o Brasil e os Andes. Uma viagem longa mas largamente compensada pelo vislumbrar da cadeia montanhosa dos Andes, nevada e sinuosa. Não foi tarefa fácil para o piloto aterrar num aeroporto cuja altitude não é muito superior ao nível do mar, proveniente de uma zona de montanhas com altitude superior a 4-5.000 metros.

Santiago do Chile é uma cidade aprazível, simpática e com uma grande carga emotiva devido ao golpe de Estado ao governo democraticamente eleito de Salvador Allende, perpetrado pelo ditador Augusto Pinochet, que aconteceu num famigerado 11 de Setembro, em 1973.

Aproveitei conhecimentos dos Serviços Florestais para visitar 3 locais que considerei importantes, tendo em conta o tempo disponível. Comprei um passe de avião que me permitiu efectuar 3 viagens e visitar 3 regiões de grande importância paisagística, natural e cultural do Chile. Numa primeira fase visitei o eixo entre Santiago e Valparaíso, depois, deslocando-me mais para sul, a região de Puerto Montt e a ilha de Chiloé e finalizei pelo extremo sul, celebremente conhecido por Patagónia chilena e administrativamente por XII região. Em cada um destes locais contactava com o responsável ou um técnico da CONAF (Serviços Florestais Chilenos) o qual, na maior parte dos casos, me recebia amistosamente e indicava os locais mais interessantes e que deveriam ser visitados.

Visitámos Viña del Mar (local do Congresso) e Valparaíso, cidades costeiras que convivem com o oceano revolto do Pacífico. Raúl, um colega que também participou na Conferência, foi um guia incansável e abriu o seu país a um estrangeiro desconhecedor das belezas da América do Sul.

Após uma curta viagem aérea entre Santiago e Puerto Montt, na X região administrativa (Los Lagos) deste país com mais de 3.000 km de comprimento, iniciei a visita no local onde o país começa a fugir para o mar, desfazendo-se em ilhas, baias, penínsulas, estreitos e glaciares. Puerto Montt é uma pequena e pesqueira cidade com o vulcão Osorno em fundo.

Utilizando o autocarro, barco e automóvel de funcionários dos Serviços Florestais, percorri a ilha principal do arquipélago de Chiloé, com o seu Parque Nacional caracterizado por uma floresta sempre verde e viçosa, consequência do clima quente e húmido. As pequenas localidade de Ancud (ponte de entrada na ilha grande de Chiloé) e de Castro (cidade principal) foram visitadas com recurso a locomoção própria: a planura da ilha permite percursos pedestres muito interessantes. De salientar a igreja/catedral de Castro com as suas cores exóticas e as aldeias piscatórias palafitas.

Experimentem os pratos típicos: uma sopa com galinha batata, peixe e marisco apresentou-se como uma iguaria única, aparte a estranha mistura de ingredientes.

Próximo percurso: Puerto Montt --> Punta Arenas, capital da Patagónia Chilena. A cidade de maior latitude sul, fundada em 18 de Dezembro de 1848, é bastante colorida, com edifícios planos e constantemente varrida pelo vento. Recordo-me que no porto, em pleno Estreito de Magalhães, muito dificilmente uma pessoa conseguia ficar em pé, sem se agarrar a algo fixo.



Algumas recordações desta cidade austral:


- Um tipo qualquer que se encontrava num dos miradouros da cidade ofereceu-me para prova de gustação algo que vim a perceber ser o recheio de um ouriço-do-mar.

- A estátua a Fernão de Magalhães exposta numa das praças é uma réplica perfeita da existente na nossa lisboeta Praça do Chile.

- Pessoal muito simpático e hospitaleiro.


A Patagónia recebeu o seu nome devido aos patagões, nome dado aos nativos pelos primeiros navegantes que desembarcaram na costa atlântica. Crê-se que a origem do termo patagão se deve ao facto dos nativos caçadores avistados pelos marinheiros serem altos e possuírem pés grandes.

No aeroporto tinha o Hugo à minha espera. Não o conhecia mas rapidamente o associei à descrição que dele me tinham feito. Levou-me a uma casa de família onde fiquei acolhedoramente alojado. Visitámos também os colegas dos serviços florestais da XII Região. Prontificou-se em me mostrar o ex-líbris da sua terra, que é o Parque Natural de Torres del Paine.


E lá partimos numa pickup, rumo ao norte, por estradas rectilíneas intermináveis, ladeadas por vegetação rasteira e vestígios de árvores secas e queimadas. Fizemos escala em Puerto Natales onde pernoitámos numa cabana das equipas de supressão de incêndios. Pelas 4 horas da manhã estávamos a caminho do mais famoso Parque Natural da América do Sul.

Segundo informação recolhida na Wikipedia, o Parque Nacional de Torres del Paine é um dos componentes do Sistema Nacional de Áreas Silvestres Protegidas do estado do Chile. Em 2006 ocupa uma superfície de 242.000 hectares. Localiza-se a 112km a norte de Puerto NAtales e a 312 km da cidade de Punta Arenas. Limita a norte com o Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina. O Parque foi criado no dia 13 de Maio de 1959 e a UNESCO declarou-o reserva da biosfera a 28 de Abril de 1978. Apresenta uma grande variedade de particularidades naturais: montanhas (destacam-se o complexo de Cerro Paine, cujo cume principal atinge os 3.050 metros, as Torres del Paine e os Cuernos del Paine), vales, rios (como por exemplo o rio Paine), lagos (destacando-se os conhecidos Grey, Pehoé, e Sarmiento), glaciares (Grey, Pingo, Tyndall e Geikie, pertencentes ao Campo de Gelo Patagónio Sul). Possui uma grande variedade florística e faunística, registando-se várias espécies endémicas.

Chegámos ao Parque durante a manhã com uma temperatura do ar muito baixa, o que fez saber ainda melhor o reconfortante pequeno-almoço oferecido pelos guardas do Parque numa das suas casas-abrigo.

O passeio pela área protegida foi deslumbrante e apesar de algumas nuvens, conseguimos descortinar os três picos das Torres del Paine.

Caso tenham oportunidade alojem-se no Hotel do Sector Lago Pehoé, Salto Chico. Deve ser impressionante acordar quentinho com a vista paradisíaca do lago, queda de água e, em fundo, as Torres del Paine.

De regresso passámos pela Gruta do Milodon, uma espécie extinta de mamífero placentário, da família das actuais preguiças.

Durante a descolagem de Punta Arenas, sob os pensamentos nostálgicos da partida e um intensíssimo vento que desengonçava o avião, pensei que a probabilidade de regressar àquele fim-do-mundo seria muito remota, até porque existiriam muitos outros locais com beleza idêntica a visitar.

De regresso a Portugal, ficou na memória a vista aérea nocturna de Fortaleza, com a sua marginal serpenteando pela costa.

Devido ao atraso do voo intercontinental, por pouco não perdemos o avião de Madrid para Lisboa.

Autores cujos livros devem ser consumidos, antes, durante e após uma viagem ao Chile: Francisco Coloane, Luís Sepúlveda e, caso visitarem a Patagónia, não esquecer de Bruce Chatwin (Na Patagónia). Para quem gosta de poesia, experimente Gabriela Mistral, prémio Nobel da Literatura.


E não esquecer o Guia dos Guias: LonelyPlanet.



Ficha de viagem

Países: Chile

Cidades/locais visitados: Santiago do Chile, Valparaíso, Viña del Mar, Puerto Monte, Ilha de Chiloé, Punta Arenas, Puerto Natales, Parque Nacional de Torres del Paine.

Meios de transporte utilizados: Avião, Barco, Autocarro, pickup

Data de início: Novembro de 1998

Data de Fim: Dezembro de 1998

Tempo de permanência: cerca de 15 dias

Mapa:



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