domingo, 9 de novembro de 2008

Escapadinha a Marrocos

A primeira coisa de que nos temos de mentalizar quando visitamos um país do Magrebe (ou outros) é de que não podemos olhar os comportamentos dos visitados à luz dos valores ocidentais. Algo que automaticamente conotariamos como negativo, deve ser considerado simplesmente como DIFERENTE. O trânsito caótico e a difícil interacção entre as viaturas e os peões, por exemplo, pode ser um bom motivo para revivermos Lisboa dos anos 70 onde as passadeiras para transeuntes era coisa rara e tínhamos de fintar as viaturas para chegar inteiros ao outro lado da rua. Reviver a juventude.

Gozemos então o prazer que nos pode dar a visita este país maravilhoso que é Marrocos, despidos de preconceitos e de falsos orgulhos sociais.



Tudo começou com uma noticia de um novo voo da TAP para Casablanca: 65euros, ida, várias vezes por semana. Consultei a minha agência viagens "oficial" Logitravel (recomendo vivamente) e consegui um pacote por 233 euros (viagem, taxas, Hotel 4*, com meia pensão).

Aconselho o Hotel onde fiquei em Casablanca. Os preços são muito inferiores aos constantes no preçário do sítio, caso sejam contratualizados através de uma agência de viagens. Fica no centro e o serviço e razoável.

Casablanca é uma cidade muito pouco característica, com carência de pontos de interesse. Aconselho a mesquita Hassan II, acabada de construir no início dos anos 1990 e com um minarete de mais de 200 metros de altura. A localização junto ao mar, os tectos de abertura mecânica, e os trabalhos em madeira e em mármore são outros motivos para a visita. A visita guiada é cara para o que mostram: somente o salão principal da oração e algumas salas anexas (impressionante a sala de lavagens no piso inferior do salão principal de orações) e não se sobe ao minarete (12 euros).
A Medina não tem um interesse por aí além: ruas mais largas que o costume e souk pouco característicos.

Quem está em Casablanca chega facilmente, através de comboio , à capital Rabat. Após uma hora de viagem, com saídas frequentes, chegamos a uma cidade mais cosmopolita e mais motivos de interesse. Aconselho a saída da estação e seguir a avenida principal em direcção a ocidente, passar a Medina, atravessar o cemitério e chegar ao mar. Regressar pela fortaleza/kashba junto ao rio (Oudayas) que separa Rabat da vizinha cidade de Salé.





Reservei um dia para Marraquexe. Cerca de 300 km distam esta cidade de Casablanca, os quais são facilmente calcorreados em comboios razoavelmente rápidos e confortáveis e a preços módicos (165 dh ida e volta, aproximadamente 15 euros). Uma cidade mais desafogada, com largas avenidas, prédios recentes, vegetação luxuriante e sempre aquela cor ocre que a caracteriza. A estação de comboios fica a cerca de 3-4km da praça central Djemaa El-Fna, mas o percurso faz-se bem a pé. Até porque é andando que se visitam estes maravilhosos locais. Nesta praça é essencial subir a uma das esplanadas que ficam nos terraços dos edifícios vizinhos e saborear à distância todo o rebuliço dos actores, encantadores de serpentes, domadores de macacos (esta actividade é de desincentivar), vendedores de fruta, acompanhado por um chá de menta (the a la menthe). Regressar à estação pelo interior da Medina, muito mais colorida e recheada que as de Casablanca e de Rabat.


Se tiveram de viajar de táxi, e para evitar dissabores no final, questionem sempre inicialmente do valor do serviço. Os "petit taxi" são curiosos. Normalmente viaturas ligeiras de baixa cilindrada (fiat punto e similares) transportam todos os que aparecem no percurso e que terão destinos semelhantes. Nunca percebi como é feita a divisão do pagamento do serviço. Andei num carro com mais de 600.000 quilómetros, praticamente sem faróis, a porta não fechava e o motorista parou durante a viagem para... meter combustível. Por vezes o automóvel ia abaixo, não sei se por problemas mecânicos se propositadamente para poupança de combustível

Outros aspectos interessantes e práticos a reter:



  • Apanhei o euro com a seguinte taxa de conversão para o Dirham: 1 euro - 0,09 dirham (aproximadamente um décimo, o que facilita as contas)

  • Utilizem ao máximo o comboio: barato, cómodo e quase sempre pontual.

  • Experimentem o restaurante Iamine junto ao mercado de Casablanca. Peixe frito e marisco (que se comem à mão), lambuzados em molhos diversos e uma salada mista e bebidas, por cerca de 9 euros.

  • As compras de material artesanal devem ser guardadas para Marraquexe, se lá tiverem oportunidade de ir. Experimentem o souk e nos arredores da praça El Fna.

  • Guias da LonelyPlanet sempre.

Interessante técnica para negociar aquisição de artesanato (esta situação aconteceu realmente):

Chegar, começar a olhar e esperar pelo primeiro contacto do vendedor:
Vendedor: Olá amigo. De onde vens? Portugal? Terra do Figo. Interessa-te a mala?
Respondo: É bonita. Quanto custa?
- 35 euros. É artesanato manual e muito boa qualidade. (reparem que a partir deste momento o vendedor abstem-se de apresentar propostas de preços, sendo o comprador o único a licitar)
- Valor muito elevado. Não tenho dinheiro suficiente para tal.
- Quanto ofereces?
- Bem. Segundo as minhas possibilidades não posso dar-te mais de 5 euros.
- 5 euros?? eeeeh. Isso não paga nem o material. Vê bem produto. Alta qualidade, etc. etc. Quanto ofereces mais?
- Dou-te 7,5 euros e não posso dar mais. Sabes que eu não sou francês. Eles têm muito dinheiros. Nós os portugueses não. Por isso não posso subir mais que isto.
- É muito pouco. Não posso aceitar.
- Pronto. É pena mas não posso mesmo dar mais. Obrigado. (e manifesto intenção de abandonar o local, iniciando a caminhada ao longo da rua do souk)
- Não. espera! Qual é a tua última proposta?
- 9 euros.
- Ok. Toma. Mas não paga sequer o material e o trabalho é artesanal.
(tirei da carteira os dirhams correspondentes deixando visíveis os cartões bancários)
- Então não tens dinheiro mas tens muitos cartões, ehem? (rindo-se e mostrando os dentes todos cariados).
Separámo-nos com um aperto de mão, selando a amizade comercial entre Portugal e Marrocos.

O guia da LonelyPlanet de Marrocos tem um artigo muito interessante que dá indicações sobre a forma cordial e correcta de negociações deste tipo.


Ficha de viagem
País: Marrocos
Cidades/locais visitados: Casablanca, Rabat, Maraquexe
Meios de transporte utilizados: Avião, Comboio, Táxi
Data de início: 5 de Novembro 2008
Data de Fim: 8 de Novembro 2008
Tempo de permanência: 4 dias
Mapa:

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